Pedro Moraes Trindade, vulgarmente conhecido como Mestre Moraes, nasceu a 9 de fevereiro de 1950, na Ilha de Maré, Salvador, Brasil. Ele é um renomado mestre de Capoeira, especificamente Capoeira Angola, o estilo tradicional de Capoeira da Bahia, Brasil. Mestre Moraes começou a sua formação aos oito anos de idade, aprendendo a Capoeira de Angola desde muito cedo. Seu pai também era capoeirista, o que influenciou sua exposição precoce à arte.

Na década de 1950, Moraes começou seus estudos na academia de Vicente Ferreira Pastinha, o lendário mestre da Capoeira Angola. No entanto, na altura em que entrou para a academia de Pastinha, Mestre Pastinha estava cego e já não podia ensinar. A academia era então dirigida por dois alunos de Pastinha, João Grande e João Pequeno, que eram responsáveis pelas aulas. Moraes considera João Grande como seu verdadeiro professor, pois foi o estilo de jogo inspirador de João Grande que o marcou para sempre.

Em 1970, enquanto trabalhava para o exército brasileiro, Mestre Moraes mudou-se de Salvador para o Rio de Janeiro, onde viveu por doze anos. Durante esse tempo, ele continuou a desenvolver o seu conhecimento e prática da Capoeira. Em 1980, fundou o Grupo Capoeira Angola Pelourinho (GCAP) com o objetivo de preservar e transmitir os ensinamentos de seus mentores. Dois anos depois, transferiu o GCAP de volta para Salvador. O seu foco era voltar às raízes filosóficas da Capoeira e à sua herança africana, particularmente angolana, distanciando a prática dos seus aspectos mais comercializados e orientados para as artes marciais.

Mestre Moraes é um defensor apaixonado da Capoeira Angola e acredita que as raízes da forma de arte podem ser traçadas até o n'golo, ou "dança da zebra", um combate ritual realizado por jovens guerreiros no sudoeste de Angola. Ele desempenhou um papel crucial na codificação do estilo musical angolano da capoeira e na definição do seu conjunto instrumental básico. Sob sua liderança, o GCAP exige que todos os seus membros sejam bem versados em todos os aspectos da música da Capoeira Angola, pois ele acredita que a música é parte integrante da prática.

Mestre Moraes também articulou uma perspetiva filosófica sobre a Capoeira Angola. Ele vê o ringue de capoeira como uma representação simbólica do mundo "macro", onde os movimentos dentro do ringue refletem os desafios e adversidades que enfrentamos na vida. Segundo ele, os "adversários" da vida podem não entender a Capoeira, mas têm seus próprios movimentos e lutas. O objetivo na Capoeira, como na vida, é interpretar e entender esses movimentos no contexto, usando o ringue de capoeira como ponto de referência. Nas suas palavras, "Jogando no ringue, conseguimos estabelecer uma fusão entre elementos lúdicos e respeito pelo outro. Mas o ringue não é a realidade: é o mundo. Se ganharmos neste ringue, podemos levar o outro também!"

Hoje, Mestre Moraes reside em Salvador, Bahia, onde divide o seu tempo entre o ensino de inglês e português numa escola pública e a direção do GCAP. O GCAP evoluiu para um projeto de divulgação cultural, formando tanto estudantes adultos que vêm de todo o mundo como crianças que, de outra forma, poderiam não ter orientação e um escape positivo para a sua energia.