Biografia:

Mestre José Carlos Gonçalves é uma das figuras centrais responsáveis pela expansão e preservação da Capoeira Angola no Rio de Janeiro. Discípulo direto de Mestre Moraes, e espiritualmente enraizado na linhagem de Mestre João Grande e Mestre Pastinha, tornou-se mais tarde o fundador do Grupo de Capoeira Angola N'Golo, um dos grupos de Angola mais conscientes historicamente no Brasil.

Treinamento e Formação Inicial

Mestre José Carlos começou a treinar Capoeira Angola em 1973 com o GCAP Mestre Moraes no Rio de Janeiro. Guiado pelo rigor, disciplina e filosofia que Mestre Moraes transmitiu dos ensinamentos de Pastinha, José Carlos rapidamente se tornou um dos alunos mais comprometidos do grupo.

Em 16 de dezembro de 1978, durante uma cerimónia no Parque Lage, foi oficialmente reconhecido pelo seu mestre como Mestre de Capoeira Angola, ao lado de outros nomes emblemáticos da linhagem Moraes.

GCAP - Um Fundamento Histórico

Em 5 de outubro de 1980, Mestre José Carlos tornou-se um dos co-fundadores do Grupo de Capoeira Angola Pelourinho (GCAP), criado na feira de artesanato do Cosme Velho, no Rio de Janeiro.
O GCAP viria a ser uma das organizações angolanas mais influentes do final do século XX, servindo como um movimento de resistência cultural e uma força unificadora para Angola no Rio.

Os fundadores - Mestre Moraes, Mestre Neco, Mestre Braga e Mestre José Carlos - estabeleceram uma estrutura baseada em fundamentos filosóficos africanos, disciplina, ritual e respeito pelo legado de Pastinha.

O Nascimento de N'Golo - Um Retorno às Raízes (1991)

Em 1991, após anos de intensa dedicação ao GCAP, Mestre José Carlos deixou a organização e fundou seu próprio grupo:

Grupo de Capoeira Angola N'Golo, criado a 10 de dezembro de 1991.

O nome "N'golo " - escolhido por Dona Rosemery, sua falecida esposa - refere-se a um ritual ancestral das tribos do sul de Angola.
A cerimónia do N'golo, realizada por jovens durante um ritual de cortejo de zebras, simbolizava agilidade, beleza, habilidade e o rito de passagem para a idade adulta.

Para os africanos escravizados no Brasil, esse ritual evoluiu mais tarde para o que ficou conhecido como Capoeira Angola dentro das senzalas. Assim, a adoção do nome N'golo simboliza:

  • um retorno às origens africanas,

  • um compromisso com a filosofia ancestral,

  • e a preservação dos fundamentos ritualísticos e culturais da Capoeira Angola.

Desde a sua criação, o grupo carrega essa identidade com orgulho, integrando aspectos históricos, teóricos e rituais em seu treinamento.

Desafios, lesões e retorno ao jogo

Em 24 de novembro de 1992, Mestre José Carlos rompeu o tendão de Aquiles, lesão que o afastou temporariamente da roda, mas não da capoeira.
Foi operado em 4 de março de 1993, e seu retorno à roda aconteceu em 16 de novembro de 1993, no I Simpósio Nacional de Estudos e Debates de Capoeira, realizado na UERJ.

Esse momento marcou não só a sua recuperação física, mas também a sua reafirmação simbólica dentro da comunidade angola.

Espaços de Ensino e Expansão do Grupo N'Golo

A partir do início da década de 1990, Mestre José Carlos trabalhou incansavelmente para manter e expandir o seu grupo:

  • 1994: os treinos foram retomados no quintal de sua casa, quando não havia espaço formal disponível.

  • 1995: começou a dar aulas na Academia Irmãos Reis, no Catete.

  • 1997: a convite do Mestre Braga, o grupo mudou-se para o prédio da UNE, permanecendo lá até 2002.

  • 2003-2005: O N'Golo funcionou no Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, em Santa Teresa.

Nos anos seguintes, o grupo continuou crescendo e se adaptando, sempre priorizando a presença comunitária e a formação cultural.

Hoje em dia

Hoje, o Grupo de Capoeira Angola N'Golo realiza treinos e rodas no Mercado das Pulgas, em Santa Teresa, e tem espaços ativos nos bairros da Tijuca e Urca.
Também há planos para que o grupo retome as atividades em Fortaleza, no Ceará, ampliando sua influência regional.

O grupo mantém-se fiel aos princípios fundamentais da Capoeira Angola:

  • a filosofia do equilíbrio e da vitalidade,

  • a compreensão histórica e teórica da arte,

  • o ritmo ancestral do berimbau,

  • e as canções que formam a espinha dorsal espiritual do jogo de Angola.

Sob a liderança do Mestre José Carlos, o N'Golo continua a ser um símbolo de tradição, resistência e memória cultural.