Nivaldo de Siqueira Silva, conhecido no mundo da capoeira como Mestre Neco Pelourinho, nasceu em 24 de abril de 1955, no Rio de Janeiro. Mestre de Capoeira Angola, líder cultural e guardião da herança afro-brasileira, está entre as figuras mais influentes formadas na linhagem de Mestre Moraes e, indiretamente, de Mestre Pastinha.

Seu trabalho moldou profundamente o desenvolvimento, a preservação e a disseminação da Capoeira Angola no Rio de Janeiro, Brasil, e mais tarde em vários continentes.

Primeiros Anos e Formação

Mestre Neco começou a praticar capoeira aos 14 anos de idade, em 1969, no Rio de Janeiro. Os seus primeiros anos coincidiram com um período de repressão cultural no Brasil, quando as tradições afro-brasileiras enfrentavam pressões políticas e sociais. A capoeira, portanto, tornou-se não apenas uma prática física para ele, mas também um veículo de identidade e resistência.

Em 1973, ele conheceu Mestre Moraes - ummomento crucial que definiu o rumo de sua vida. Sob a orientação de Moraes, Neco foi introduzido aos fundamentos filosóficos, ritualísticos e históricos da Capoeira Angola, a forma tradicional preservada por Mestre Pastinha.

Em 1979, depois de anos de treinamento intenso, ele foi oficialmente graduado como angoleiro por Mestre Moraes, juntando-se à primeira geração de mestres surgidos dessa importante linhagem.

Co-fundação do GCAP - Movimento de Resistência Cultural

Na década de 1970, durante um momento crucial na revitalização da Capoeira Angola, Mestre Neco tornou-se um dos fundadores do Grupo de Capoeira Angola Pelourinho (GCAP) no Rio de Janeiro - ao lado de mestres como Mestre Moraes, Mestre Braga e Mestre José Carlos.

O GCAP foi criado em meio a um ambiente de repressão governamental à cultura africana. O grupo tornou-se um esforço coletivo para:

• preservar o património afro-brasileiro,

• salvaguardar a tradição da Capoeira Angola,

• unificar os praticantes no Rio,

• e fortalecer a capoeira como forma de resistência cultural e memória ancestral.

Neco desempenhou um papel essencial na organização e identidade do grupo, ajudando a estabelecer o GCAP como uma das instituições angolanas mais influentes do final do século XX.

Fundação do Só Angola - Preservação e Identidade

Depois de anos dedicados ao GCAP, Mestre Neco fundou sua própria escola, o Grupo de Capoeira Só Angola (GCASA), continuando seu compromisso com o ritual, o vocabulário de movimento, a música e a filosofia enraizada na linhagem de Pastinha.

Através do Só Angola, ele enfatizou:

• técnica tradicional,

• precisão estética,

• a formação cultural,

• fundamentos históricos afro-brasileiros,

• e a ética do ritual de Angola.

Sua escola tornou-se uma das referências para os praticantes de Angola no Rio de Janeiro.

Expansão internacional

A partir de 2000, Mestre Neco expandiu seu trabalho internacionalmente, ensinando, apresentando e compartilhando a Capoeira Angola em vários países, incluindo:

• Senegal

• França

• Dinamarca

• Chile

As suas viagens contribuíram significativamente para o reconhecimento mundial de Angola como uma prática cultural afro-brasileira profunda, para além do desporto ou do espetáculo.

Reconhecimento e liderança cultural

Em 2014, Mestre Neco tornou-se membro titular do Conselho de Mestres de Capoeira, vinculado ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), representando a comunidade de capoeira do Rio de Janeiro.

Esse conselho é responsável pela preservação da capoeira como patrimônio cultural imaterial brasileiro, e sua inclusão destacou sua autoridade, legado e contribuições.

Casa Só Angola - Expandindo as Raízes

Em 2016, junto com seus alunos, Mestre Neco fundou a Casa Só Angola no bairro de Irajá, localizado na zona norte do Rio de Janeiro. Este espaço cultural foi criado para expandir ainda mais a Capoeira Angola, oferecendo:

• rodas,

• aulas,

• oficinas,

• estudos culturais,

• e projetos comunitários.

A Casa Só Angola continua a servir como um centro vivo de tradição, aberto a praticantes de todas as idades e origens.

Legado

Mestre Neco Pelourinho é recordado como:

• um pilar do movimento de reavivamento de Angola,

• um defensor da cultura afro-brasileira,

• um unificador dos mestres de Angola no Rio de Janeiro,

• um professor que guiou gerações de capoeiristas,

• e um embaixador da Capoeira Angola em todos os continentes.

O trabalho de sua vida é uma das contribuições fundamentais para a preservação e fortalecimento da Capoeira Angola como arte e património cultural do Brasil.