Mestre João Grande, um Grande Mestre de Capoeira Angola com mais de 70 anos de experiência, é uma das figuras mais reverenciadas no mundo da Capoeira. O seu percurso notável valeu-lhe numerosas distinções, incluindo um Doutoramento em Letras Humanas pelo Upsala College em East Orange, NJ, em 1995. Em setembro de 2001, ele foi honrado com o National Heritage Fellowship pelo National Endowment for the Arts - uma das maiores honras para praticantes de artes tradicionais nos Estados Unidos.

Nascido no vilarejo de Itagi, localizado no sul da Bahia, Brasil, a jornada de Mestre João Grande com a Capoeira começou muito cedo. Quando criança, ele trabalhava ao lado de sua família no campo. Com apenas 10 anos de idade, viu pela primeira vez o "corta capim" - um movimento caraterístico da Capoeira em que uma perna é estendida à frente, balançada num movimento circular e saltada com a outra perna. Fascinado pela sua beleza, perguntou como se chamava o movimento e foi-lhe dito que era a "Dança dos Nagos". Esta dança, executada pelos descendentes de africanos em Salvador, intrigou-o profundamente. Enquanto os iorubás do sudoeste da Nigéria influenciaram fortemente Salvador, a dança em si tinha raízes centro-africanas. Era, de facto, Capoeira.

Embora João só tenha aprendido o verdadeiro nome do movimento muitos anos depois, a experiência deixou uma marca indelével na sua vida. Com apenas 10 anos de idade, ele deixou sua casa, determinado a encontrar "a Dança dos Nagos". A sua viagem levou-o a Salvador, o berço da Capoeira como a conhecemos, onde encontrou a sua primeira roda de Capoeira. Nessa vibrante comunidade de Capoeira, ele testemunhou a presença dos Mestres Menino Gordo, João Pequeno, Mestre Barbosa e Cobrinha Verde - todos figuras-chave que moldariam sua jornada como mestre.

João Grande aprendeu Capoeira Angola com Mestre Pastinha, que continua a ser a sua principal fonte de inspiração. Mestre Pastinha, conhecido como o "Patriarca da Capoeira Angola", abriu a primeira escola de Capoeira Angola, Academia De Capoeira Angola, em Salvador, Bahia, em 1941. Mestre Pastinha dedicou sua vida a preservar a tradição da Capoeira Angola, ensinando-a como um caminho de auto-conhecimento e maestria. Ele também foi o primeiro Mestre de Capoeira a escrever um livro sobre a história, filosofia e prática da Capoeira, apropriadamente intitulado Capoeira Angola. Nos anos 70, Mestre Pastinha viajou para África com os seus alunos para participar no Festival de Artes e Cultura Africana e também produziu álbuns para promover a componente musical única da Capoeira.

Ao entrar na Academia do Mestre João Grande, sente-se imediatamente a energia da Capoeira Angola. O espaço é preenchido com o som dos berimbaus, o principal instrumento musical da Capoeira. As paredes são adornadas com galerias de fotos raras que capturam a rica história da Capoeira Angola, bem como fotos das viagens do Mestre João Grande pelo mundo. O seu profundo apreço pela cultura africana - tanto do continente africano como expressa no Brasil - reflecte-se na decoração da academia, com esculturas africanas, têxteis e inúmeras lembranças da Bahia.

A influência do Mestre João Grande vai muito além do Brasil. Ele viajou muito por África, Europa, Ásia, Brasil e Estados Unidos. Sua primeira viagem internacional foi na década de 1970 com o Viva Bahia, um dos grupos pioneiros a apresentar capoeira e outras artes folclóricas afro-brasileiras fora do Brasil. Desde então, ele tem conduzido oficinas de Capoeira Angola em todo o mundo, ensinando em universidades, faculdades, escolas secundárias, escolas primárias e organizações cívicas. As suas viagens globais permitiram-lhe partilhar a essência da Capoeira Angola com inúmeras pessoas de todas as culturas.

Para aqueles interessados em aprender com o Mestre João Grande, ele continua a oferecer a sua experiência através de workshops e aulas. A sua academia continua a ser um lugar onde as tradições da Capoeira Angola são celebradas, preservadas e transmitidas às novas gerações.