Rafael Alves França, conhecido como Mestre Cobrinha Verde, nasceu em 1917 em Santo Amaro da Purificação, uma cidade na Bahia, Brasil, considerada o coração da Capoeira. Ele foi um dos capoeiristas mais temidos e respeitados de seu tempo e era conhecido por sua habilidade e agilidade inigualáveis. Mestre Cobrinha Verde dizia ser descendente direto do lendário capoeirista Besouro Mangangá, seu primo, e foi com ele que começou a praticar Capoeira aos quatro anos de idade. Além de Besouro, ele aprendeu com alguns dos mais famosos capoeiristas da época, incluindo Siri de Mangue, Canário Pardo e Doze Homens.

Seu apelido, "Cobrinha Verde", foi-lhe dado por seu primo, Besouro Mangangá, devido à sua excecional agilidade e habilidade no uso das pernas. Mestre Cobrinha Verde também era um dos poucos que conhecia o jogo "Santa Maria", um estilo de Capoeira jogado com navalhas entre os dedos dos pés, considerado extremamente perigoso.

Para além do seu domínio da Capoeira, Cobrinha Verde teve uma história de vida notável. Chegou ao posto de 3º Sargento no antigo Regimento do CR em Campo Grande e participou da revolução de 1932. Depois de deixar o exército, começou a ensinar Capoeira na Fazenda Garcia e mais tarde no Centro Esportivo de Capoeira Angola Dois de julho em Amaralina, localizado no nordeste de Salvador. Compartilhou os ensinamentos da Capoeira com outros grandes Mestres, entre eles João Grande e João Pequeno, e sempre ensinou sem cobrar nada. Sua promessa, feita ao seu primo Besouro, era de nunca cobrar para ensinar Capoeira, e ele aderiu a este voto durante toda a sua vida.

Nos primeiros anos de sua vida, Mestre Cobrinha Verde viajou pelo nordeste do Brasil, participando de inúmeras aventuras. Uma de suas histórias mais famosas é a de que ele se juntou ao bando de cangaceiros liderado por Horácio de Matos. Numa ocasião, armado com um facão de 18 polegadas, enfrentou oito policiais que abriram fogo contra ele. De forma notável, ele usou o facão para desviar todas as balas. Essa e muitas outras façanhas lhe renderam a fama não só de suas habilidades físicas, mas também de alguns truques mágicos - mandingas - que só o pessoal do recôncavo baiano conhecia. Ele atribuía essas mandingas a um africano chamado Pascoal, vizinho de sua avó, que lhe ensinou poderosos rituais e amuletos. Uma das histórias mais conhecidas é a de que ele tinha um amuleto mágico que o protegia em momentos de perigo. Este amuleto, segundo ele, saltava quando deixado num prato fresco, mas desaparecia depois de um erro que ele cometeu.

Depois de muitas aventuras e histórias lendárias, Mestre Cobrinha Verde voltou para a Bahia, onde viveu o resto de sua vida. Em 1963, foi convidado pelo ator de cinema Roberto Batalin para gravar um disco de Capoeira com outros grandes Mestres, Traíra e Gato. O disco, intitulado Traíra Capoeira da Bahia, foi um dos primeiros do género e é considerado uma obra-prima da música de Capoeira.

Mestre Cobrinha Verde faleceu em 1983, deixando um legado profundo, que ecoa a tradição dos grandes Mestres de Capoeira da Bahia. As suas contribuições para a Capoeira, a sua vida colorida, e os seus feitos lendários continuam a inspirar Capoeiristas em todo o mundo.