Biografia:

Mestre Pé de Chumbo, nascido Gidalto Pereira Dias em 8 de dezembro de 1964, em Floresta Azul, no interior da Bahia, é um dos principais responsáveis pela difusão da Capoeira Angola da Bahia para o estado de São Paulo e depois para vários países do mundo. Discípulo direto de Mestre João Pequeno, é reconhecido pelo seu trabalho sério e consistente e pela sua fidelidade à linhagem de Mestre Pastinha.

Filho de João Pereira Dias e Erotildes Maria de Jesus, foi criado pelos avós após a morte de sua mãe durante o parto. Sua infância foi passada entre cidades baianas como Ibicaraí, Eunápolis e Porto Seguro. Foi em Ibicaraí, por volta de 1974-1975, que deu seus primeiros passos na capoeira, incentivado pelo irmão mais velho e motivado por um desafio juvenil após perder uma luta para outro capoeirista. A partir desse momento, nunca mais largou a capoeira.

Naquela época, lembra ele, não se distinguia claramente entre "Angola" e "Regional"; era simplesmente capoeira, com um estilo e sentimento muito próximos do que hoje é reconhecido como Capoeira Angola. Sua relação formal com a Capoeira Angola como um estilo definido começou em 1977, quando viu os Mestres Dois de Ouro e Cebolinha se apresentando em sua cidade. Eles se apresentaram como angoleiros, jogando um jogo bonito e eficiente que o impressionou profundamente e despertou seu desejo de procurar a Angola de Mestre Pastinha.

Da Bahia para São Paulo - e de volta às raízes

Por volta de 1980, como era comum a muitos jovens nordestinos, deixou a Bahia para trabalhar no estado de São Paulo, mudando-se para Indaiatuba, onde moravam suas irmãs. Trabalhou em várias empresas e passou um tempo na própria cidade de São Paulo, onde freqüentava a famosa roda da Praça da República.

Em 1981, com a lembrança ainda viva do jogo contra Angola que assistira em 1977, viajou para Salvador durante as férias especificamente para procurar Mestre Pastinha, cujo nome lhe fora indicado por Dois de Ouro e Cebolinha. Sua passagem estava marcada para 14 de novembro de 1981, mas Mestre Pastinha faleceu em 13 de novembro, um dia antes de sua chegada.

Sem Pastinha, começou a procurar em Salvador a Capoeira Angola e encontrou Mestre Ezequiel, que o encaminhou para Mestre João Pequeno. Em 1982, Pé de Chumbo iniciou sua formação de Angola com João Pequeno, treinando na academia que carregava o legado de Pastinha. Lá, ele também teve aulas com Mestre João Grande, aprofundando seu conhecimento do jogo, da filosofia e do ritual de Angola.

Encantado com a Angola de Pastinha e João Pequeno, permaneceu em Salvador por um longo período, dedicando-se aos treinos. Mais tarde, voltou para São Paulo, mas permaneceu ligado ao seu mestre, viajando frequentemente para Salvador para continuar a aprender.

Entre Regional e Angola - Até a Escolha Definitiva

De volta a São Paulo, em 1983 fundou o grupo Filhos da Bahia, onde trabalhou com a Capoeira Regional, que sempre praticou, e a Angola, à qual se dedicou nos últimos anos. Tornou-se professor de Capoeira Regional em 1987, sem abandonar o treino de Angola com João Pequeno.

Em 1988, como parte desse intercâmbio constante, viajou mais uma vez para Salvador e voltou para Indaiatuba acompanhado do Mestre João Pequeno, que ficou por três meses, ensinando Capoeira Angola em seu espaço. Em 1989, Pé de Chumbo recebeu o título de Mestre de Capoeira Regional e trouxe novamente João Pequeno para São Paulo.

Em 1990, ele fez uma escolha decisiva: voltou para Salvador decidido a seguir exclusivamente a Capoeira Angola e abriu mão voluntariamente do título de Mestre de Capoeira Regional. Nesse ano, passou um longo período em Salvador, lecionando na academia do Mestre João Pequeno e se dedicando integralmente à Angola. Em 1991, foi graduado como Professor de Capoeira Angola por João Pequeno e mais uma vez organizou um evento em São Paulo com seu mestre e outros nomes da Angola.

Em 1992, fundou em São Paulo a Academia de Capoeira Angola João Pequeno e João Grande de Pastinha e logo foi convidado a dar aulas na Suécia, iniciando uma nova fase de trabalho internacional.

O CECA e a Expansão Internacional

Quando voltou da Europa em 1993, foi para Salvador, onde Mestre João Pequeno pediu-lhe que usasse seu uniforme e nome - Academia João Pequeno de Pastinha / CECA (Centro Esportivo de Capoeira Angola) - reconhecendo a Pé de Chumbo como parte da continuação oficial da escola de Pastinha.

Em 1994, já totalmente dedicado à Capoeira Angola e ao trabalho do Mestre João Pequeno, foi graduado Mestre de Capoeira Angola por João Pequeno, ao lado de outros mestres como Barba Branca, Jacaré, Junior Médico e Jogo de Dentro.

A partir da década de 1980, Mestre Pé de Chumbo tornou-se um dos principais difusores da Capoeira Angola em São Paulo, mantendo seu trabalho de Angola desde 1983 e organizando eventos que trouxeram muitos angoleiros baianos para o Sudeste. Muitos dos que mais tarde formaram seus próprios grupos de Angola em São Paulo vieram através desses encontros.

Nas décadas seguintes, construiu trabalhos em várias cidades brasileiras e em diversos países, como Suécia, Alemanha, Portugal, Estados Unidos, Dinamarca e México. Ajudou a fundar várias academias ligadas à linhagem do CECA, levando adiante o nome do Mestre Pastinha através do trabalho do Mestre João Pequeno.

É também autor e participante de importantes obras culturais, como o CD "Mestre Pé de Chumbo e Convidados" (2002) e o curta-metragem "Porto e Raiz" (2021), onde contribuiu com narração, produção musical e atuação.

Estilo e legado

Conhecido por seu jogo baixo e rasteiro, sua seriedade e seu forte apego à tradição, Mestre Pé de Chumbo é amplamente reconhecido como um dos grandes mestres da Capoeira Angola no mundo. Sua trajetória mostra uma rara combinação de excelência técnica, respeito à linhagem, e uma vida inteira de dedicação à arte e à filosofia da Angola de Mestre Pastinha.

Através de seus ensinamentos, suas viagens e sua lealdade ao Mestre João Pequeno, ele ajudou a garantir que o jogo da Angola - antes restrito principalmente à Bahia - criasse raízes em São Paulo e se espalhasse pela Europa e pelas Américas, mantendo-se ligado às suas origens.