Mestre Joao Pequeno

Biografia:

João Pereira dos Santos, conhecido como Mestre João Pequeno, foi um renomado mestre de capoeira brasileiro. Filho de Maria Clemença de Jesus, ceramista de origem indígena, e de Maximiliano Pereira dos Santos, pecuarista da Fazenda Vargem do Canto, na região de Queimadas, João Pequeno teve uma vida marcada por dificuldades. Aos 15 anos, fugiu da seca a pé, viajando para Alagoinhas e depois para Mata de São João, onde passou dez anos trabalhando numa fazenda de cana-de-açúcar como boiadeiro. Nessa época, conhece Juvêncio, ferreiro e capoeirista da Fazenda São Pedro, que o introduz na Capoeira.

Aos 25 anos, João Pequeno mudou-se para Salvador, onde trabalhou como condutor (cobrador de passagens) de bondes e como operário da construção civil. Foi na construção civil que ele conheceu Cândido, que o apresentou a Mestre Barbosa, uma figura-chave da Capoeira no Largo Dois de julho. Mestre Barbosa organizou treinos e reuniu um grupo de amigos que participavam de rodas na famosa roda do Cobrinha Verde no Chame-chame. Mais tarde, João Pequeno entrou para o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), uma reunião de capoeiristas coordenada por Mestre Pastinha. Por volta de 1945, Mestre Pastinha nomeou João Pereira como "treinel" (instrutor assistente), e foi durante esse tempo que ele adoptou o nome João Pequeno.

No final dos anos 60, quando Mestre Pastinha já não podia mais ensinar, ele passou a responsabilidade da Capoeira para João Pequeno, dizendo: "João, você cuida disso, porque eu vou morrer, mas o meu espírito vai viver enquanto a Capoeira existir." João Pequeno passou a ensinar Capoeira na academia de Mestre Pastinha, onde formou muitos futuros mestres capoeiristas, incluindo João Grande, que se tornou um parceiro-chave em seu jogo, e outras figuras proeminentes como Morais e Curió.

Na década de 1970, apesar dos conselhos de Mestre Pastinha para que trabalhasse menos e se dedicasse mais à Capoeira, João Pequeno se viu diante das dificuldades da vida numa cidade grande. Trabalhou como feirante e carvoeiro, ganhando o apelido de "João do Carvão". Morou no bairro do Garcia e depois em um barraco próximo ao Dique do Tororó. Após a morte de sua primeira esposa, conheceu Dona Mãezinha no Pelourinho, nos tempos áureos da academia de Pastinha, e construíram juntos uma família. Com muito esforço, construíram uma casa em Fazenda Coutos, uma área suburbana longe do centro da cidade, onde recebiam visitantes de comunidades de Capoeira do mundo inteiro.

Para João Pequeno, a Capoeira não é apenas uma questão de flexibilidade física e de manter a juventude, mas também de desenvolver a mente. Vê a Capoeira como um processo de desenvolvimento pessoal, uma luta criada pelos fracos para enfrentar os fortes, mas também uma dança onde ninguém deve magoar o seu parceiro. Ele acredita que o verdadeiro capoeirista sabe como controlar o seu poder e evitar magoar os outros. "Um capoeirista deve ser bem educado, como uma boa árvore que dá bons frutos", costuma dizer.

Em 1981, após a morte de Mestre Pastinha, João Pequeno reabriu o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA) no Forte Santo Antônio Além do Carmo em 1982, estabelecendo uma nova base para a resistência da Capoeira Angola e difundindo a sua prática pelo mundo. Apesar de enfrentar dificuldades para manter a academia, João Pequeno conseguiu formar vários mestres e construir uma grande comunidade de discípulos.

Durante a década de 1990, o governo do estado tentou despejar o CECA de seu local para reformas, apesar de João Pequeno ter recebido várias homenagens, como o título de cidadão de Salvador pela Câmara Municipal, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Uberlândia e o título de Comendador da Cultura pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A comemoração anual do aniversário de João Pequeno tornou-se um evento espontâneo na comunidade capoeirística, onde é realizada uma grande roda com a participação de vários mestres e integrantes.

O estilo de Capoeira de João Pequeno, marcado pela graça e precisão, deixou uma marca indelével na arte. A sua excecional habilidade e sabedoria continuam a inspirar as novas gerações de capoeiristas. Em 1970, Mestre Pastinha comentou sobre João Pequeno e seu companheiro João Grande: "Eles serão os grandes capoeiristas do futuro, e por eles eu lutei e trabalhei. Eles serão verdadeiros mestres, não apenas professores improvisados que destroem nossa bela tradição. Ensinei-lhes tudo o que sei, até o 'pulo do gato'".

João Pequeno é lembrado não só pela sua excelência na Capoeira, mas também pelo seu empenho em preservar e partilhar o seu legado, fazendo dele uma das figuras mais respeitadas da história da Capoeira.