Mestre Barba Branca, nascido Gilberto Reis Ferreira Santos Filho em 28 de março de 1956, em Canavieiras, Bahia, é lembrado hoje como uma das figuras mais importantes da era moderna da Capoeira Angola. O trabalho de sua vida ajudou a preservar, expandir e dignificar a tradição da Capoeira Angola tanto no Brasil como internacionalmente.

Quando tinha treze ou catorze anos, depois de se mudar com a família para o bairro da Liberdade, em Salvador, descobriu a capoeira através de Mestre Traíra, um renomado discípulo de Mestre Waldemar. A morte repentina de Mestre Traíra no início dos anos 70 deixou o jovem Gilberto sem professor, mas sua determinação o levou a continuar procurando.

Em meados da década de 1970, encontrou Mestre João Pequeno, um dos maiores alunos de Mestre Pastinha. Passou a fazer parte do grupo inicial de João Pequeno durante a refundação do CECA (Centro Esportivo de Capoeira Angola) no Forte Santo Antônio Além do Carmo em 1982. Durante quase quinze anos, Barba Branca treinou intensamente nessa linhagem ao lado de nomes como Eletricista, Jogo de Dentro, Junior, Rita, Roque, Zanders, e muitos outros.

Líder em sua comunidade

Em 1984, Mestre Barba Branca começou a dar aulas no Cabula e bairros vizinhos. Rapidamente seu trabalho se expandiu, principalmente com crianças e adolescentes. Mais tarde, desenvolveu um projeto de longa data chamado Ibéji, em parceria com o histórico terreiro de Candomblé Ilê Axé Opó Afonjá, de Mãe Stella de Oxóssi. Sua dedicação à educação comunitária e à preservação cultural tornou-se um dos marcos de sua carreira.

Em 1991, ele fundou oficialmente o Grupo de Capoeira Angola Cabula (GCAC) - que mais tarde cresceria para além do Brasil e se tornaria um dos grupos de Angola mais reconhecidos na Europa.

ABCA e o fortalecimento da Angola

Mestre Barba Branca teve um papel crítico na criação da Associação Brasileira de Capoeira Angola (ABCA). Ele participou das primeiras reuniões em 1987, e na re-fundação oficial em 23 de agosto de 1993, ele se tornou o presidente da associação.

Sob sua liderança, a ABCA trabalhou para honrar mestres mais antigos - como Caiçara, Zacarias Boa Morte, Diogo e outros - e para proteger os fundamentos filosóficos, rituais e culturais da Capoeira Angola.

Reconhecimento como Mestre

Em 1994, após décadas de dedicação, recebeu o título de Mestre das mãos de seu professor, Mestre João Pequeno, passando a integrar a linhagem de Pastinha através de um de seus mais respeitados transmissores.

Legado Internacional

A influência do Mestre Barba Branca estendeu-se para além do Brasil.
- Em 1998, ele ensinou na Finlândia com Mestre Zé do Lenço.
- Em 2001, ele se conectou com capoeiristas em Lyon, França, levando à criação do GCAC França em 2003, com bases em Lyon, Grenoble e Ardèche.
- Ele supervisionou o grupo em França durante muitos anos, viajando frequentemente e ensinando pessoalmente.

Gravou também o seu álbum "Tudo na Paz, Só Alegria!" em 2011 em Grenoble, França - uma importante contribuição musical para a tradição.

Últimos anos e falecimento

Apesar de lutar contra problemas de saúde causados por um AVC em 2019, cirrose e complicações cardiovasculares, Mestre Barba Branca continuou trabalhando com seu grupo e transmitindo seus conhecimentos até o fim. Faleceu em Salvador, no dia 13 de novembro de 2021, aos 64 anos.

Hoje, sua linhagem continua através do Mestre Saúva no Cabula e através dos ramos brasileiro e francês do GCAC, apoiados por contra-mestres, treinéis e novas gerações de estudantes.

Uma filosofia enraizada na natureza

Em uma das suas entrevistas mais memoráveis, Mestre Barba Branca explicou a capoeira através da metáfora do gavião:

"Quando o gavião nasce, ele chama e chama até que a mãe vem alimentá-lo. Ele cresce, voa e começa a trabalhar.
Cresce, levanta vôo e começa a caçar seu próprio alimento.
A capoeira é a mesma coisa.
Começa-se a engatinhar, depois a andar, depois a entender o jogo.
E só então se torna mestre - sendo você mesmo e sabendo como se comportar".

Essa filosofia reflete a essência da vida de Barba Branca: crescimento, independência, humildade e evolução.