- Viveu em: Salvador, Bahia, Brazil
- Data de nascimento: 01-Jan-1925
- Data de falecimento: 01-Jan-1975
- Aprendeu com: Mestre Waldemar
- Estilo de Capoeira: Angola
Biografia:
João Ramos do Nascimento - Mestre Traíra
c. 1925, Cachoeira (BA) - c. 1975, Salvador (BA)
Calmo na voz, feroz no tempo, Mestre Traíra foi um dos grandes estilistas da Capoeira Angola. Nascido em Cachoeira, ele aparece pela primeira vez no horizonte do Recôncavo no final dos anos 1930, movendo-se entre as rodas de Mestre Juvêncio em São Félix e, logo depois, a cena crescente em Salvador. Em meados da década de 1940, os escritores já o notavam: um capoeirista compacto e musculoso, cuja elegância e eficiência o comparavam a Mestre Pastinha.
Por volta de 1947, ele aprofundou seu caminho com Mestre Waldemar na Liberdade e absorveu lições de Severo do Pelourinho. Waldemar diria mais tarde que "terminou de preparar" Traíra quando o jovem o procurou depois de um longo período na prisão - prova de que o jogo de Traíra, como grande parte da capoeira baiana, era temperado por uma vida dura, além de treinamento duro.
Nos anos 50, Traíra era presença constante no barracão do quintal de Waldemar e nas rodas de rua do bairro. Ele mantinha uma roda só para convidados atrás da sua casa na Rua do Céu, onde o jogo era apertado e intransigente-rasteiras e cabeçadas feitas com controle cirúrgico, tudo sob uma pedagogia rigorosa que esperava que adultos e crianças respeitassem o ritmo ou ficassem de fora. Os fotógrafos encontraram-no lá: Alice Brill (1953), Marcel Gautherot e Pierre Verger em meados dos anos cinquenta. Ele também entrou no cinema - Vadiação (1954, Alexandre Robatto Filho) e Bahia, Capoeira na Praia (1960, Verger/Solange) - às vezes com um pandeiro na mão.
Sua voz viaja mais longe através do vinil. Em 1962, Traíra gravou o LP conhecido como Capoeira da Bahia (Xauã) com Mestres Cobrinha Verde e Gato Preto, um raro retrato fonográfico do som da Angola em Salvador. Ouvindo com atenção, percebe-se porque seu nome ficou na língua dos jogadores: um balanço que convida, uma ameaça que nunca grita, um jogo que respira entre as batidas.
No final de sua carreira, ele ensinou Mestre Barba Branca (por volta de 1970-71), amarrando um novo fio na linhagem da Liberdade. Traíra morreu provavelmente no início dos anos 70, alegadamente de cirrose, mas a sua marca é duradoura: o jogo baixo equilibrado, o trabalho de cabeça e as varreduras feitas com discrição, a insistência de que a música lidera e o movimento responde. Na história da Angola baiana, ele é tanto uma presença quanto um padrão - prova de que um jogador quieto ainda pode comandar a roda.
Marcos selecionados
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c. 1925 - Nasce em Cachoeira, Bahia
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Final da década de 1930 - Visto em rodas com Mestre Juvêncio (São Félix)
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Meados da década de 1940 - Elogiado por Jorge Amado pelo jogo elegante e eficiente
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c. 1947 - Treina com Mestre Waldemar