Mestre Paizinho
- Lieu de résidence : Itabuna, BA
- Appris de : Mestre Neném
- Style de Capoeira : Angola
Biographie :
Mestre Paizinho, cujo nome completo era Teodoro Ramos, ocupa um lugar fundamental na história da capoeira no sul da Bahia, especialmente na cidade de Itabuna. Embora envolto em poucas fontes escritas e muitas narrativas orais, sua importância é incontestável: ele foi o primeiro mestre de Mestre Artur Emídio, um dos grandes responsáveis pela consolidação da capoeira no Rio de Janeiro no século vinte.
Discípulo de Mestre Neném, um capoeirista de origem africana, Paizinho pertenceu a uma geração formada ainda sob forte influência direta das tradições afro-brasileiras e de um tempo em que a capoeira não era ensinada em academias, mas vivida nas ruas, nos morros e nas vielas. Seu aprendizado e sua prática refletem um período em que a capoeira era tanto expressão cultural quanto estratégia de sobrevivência.
Mestre Paizinho começou a ensinar capoeira a Artur Emídio quando este tinha apenas sete anos de idade, impondo uma rotina rígida e disciplinada. Segundo os relatos do próprio Artur Emídio, Paizinho costumava acordá-lo ainda de madrugada para treinar, demonstrando um método duro, porém profundamente comprometido com a formação do corpo, da coragem e do caráter. Esse treinamento precoce e exigente marcou definitivamente a trajetória de Artur Emídio.
Naquela época, a capoeira era proibida por lei no Brasil, e ensinar ou praticá-la significava correr riscos constantes. Mestre Paizinho dava aulas clandestinamente, geralmente à noite, em locais afastados e de difícil acesso. Por essa razão, foi preso diversas vezes, mas, segundo os relatos, sempre voltava a ensinar assim que era solto. Essa persistência revela não apenas bravura, mas um profundo amor pela capoeira e pela transmissão do saber.
A morte de Mestre Paizinho também se tornou parte do imaginário popular da região. De acordo com Mestre Artur Emídio, ele faleceu de meningite, uma “morte morrida”. No entanto, em Itabuna e Ilhéus circularam versões lendárias e até “heroicas” de seu fim, incluindo a famosa história de que teria tentado voar de um coqueiro usando folhas de palmeira, à maneira de Ícaro. Essas narrativas folclóricas, verdadeiras ou não, mostram o quanto sua figura marcou a memória coletiva local.
A importância de Mestre Paizinho vai muito além de seu nome pouco conhecido fora da Bahia. Ele foi um guardião da capoeira em um período de repressão, responsável por manter viva uma tradição que poderia ter se perdido. Ao formar Artur Emídio, transmitiu uma linhagem que ligava Mestre Neném → Mestre Paizinho → Mestre Artur Emídio, criando um elo direto entre a capoeira praticada no interior da Bahia e a capoeira que mais tarde floresceria no Rio de Janeiro.
Mesmo sem academias, títulos formais ou registros oficiais, Mestre Paizinho permanece como uma dessas figuras essenciais da capoeira: um mestre do tempo da resistência, cuja herança vive através dos mestres que ele formou e das histórias que continuam a ser contadas nas rodas.