Mestre Celso Pepe, nascido no Rio de Janeiro em 1949, é uma das figuras mais importantes da capoeira carioca, conhecido por unir duas linhagens distintas de jogo — o São Bento Grande e o Angola — e por formar gerações de capoeiristas em diversos bairros do Rio. Sua trajetória começou cedo e marcou profundamente a história da capoeira na cidade.

Início na Capoeira (1957–1960)

Celso Pepe descobriu a capoeira em 1957, aos oito anos, no conjunto residencial IAPC, em Olaria. Todos os domingos pela manhã ele ouvia o som do pandeiro e do berimbau vindos do centro comunitário e, um dia, escapou de casa para assistir a uma aula ministrada por Mestre Djalma Bandeira. Muito jovem, teve sua participação recusada, mas decidiu treinar sozinho, imitando os movimentos que via.
Nesse período, também passou a observar rodas e treinos com mestres como Artur Emídio e Paraná, além dos alunos mais antigos dessa linhagem.

Junto com seu irmão Walter Hugo Pepe e o amigo Luiz Garcia Filho (Pelé), treinavam escondidos atrás de um dos prédios do conjunto, reproduzindo tudo o que aprendiam assistindo às aulas de Djalma.

Formação com Dois Mestres

A trajetória de Celso Pepe é única porque ele se formou simultaneamente com dois grandes nomes da capoeiragem carioca:

• Mestre Djalma Bandeira – de quem aprendeu o jogo de São Bento Grande.

• Mestre Leopoldina – que o ensinou o jogo de Angola / São Bento Pequeno.

Celso Pepe é um dos primeiros alunos de Mestre Leopoldina, treinando com ele desde o fim da década de 1950, inicialmente debaixo de uma amendoeira no quintal da Academia Guanabara.
A partir de 1959–60, passou a se apresentar com ambos — Djalma e Leopoldina — em eventos e programas de televisão.

Televisão, Exibições e Samba

Ao longo da década de 1960, participou de:

• programas de TV como Carlos Imperial (TV Rio) e “Em Guarda” (TV Tupi);

• caravanas de espetáculos de lutas;

• a primeira Feira da Providência;

• o primeiro desfile de escola de samba com capoeira, em 1961, com Mestre Leopoldina, pela Mangueira.

Essas participações ajudaram a divulgar a capoeira no Rio num período em que ainda era discriminada.

Criação do Grupo Cativeiro (1961) e do Grupo Pepe (1973)

Em 1961, aos 12 anos, Celso Pepe começou a ensinar capoeira para crianças e adolescentes do bloco Sai Como Pode, em Ramos.
Nesse período, criou seu próprio estilo, que denominou “capoeira carioca” — uma combinação equilibrada dos jogos aprendidos com Djalma e Leopoldina.

No mesmo ano, fundou o Grupo Cativeiro, e em 1973, esse grupo se transformou no Grupo Pepe, consolidando sua marca e metodologia.
Nesse mesmo ano, Celso Pepe recebeu o título de Mestre de Capoeira pela Confederação Brasileira de Pugilismo, registro nº 22.

Atuação no Rio de Janeiro

Mestre Celso Pepe formou centenas de alunos em bairros muito diferentes, entre eles:

• Penha

• Ramos

• Tijuca

• Copacabana

• Complexo do Alemão

• Duque de Caxias (Academia Líder)

• Imperatriz Leopoldinense

Sua presença em ambientes sociais diversos — da Zona Sul ao subúrbio — produziu grupos distintos de alunos, conhecidos como:

• “os cabeludos de Pepe” — seus alunos da Penha, entre eles o jovem Mestre Touro;

• “os playboys de Pepe” — jovens da classe média de Copacabana.

Capoeira em Tempos Difíceis

Celso Pepe viveu a capoeira numa época de forte discriminação.
Relata ter sido insultado, cuspido e até preso simplesmente por estar na rua jogando capoeira.
Seu próprio pai o criticava fortemente por querer viver da arte, acreditando que a capoeira não garantiria estabilidade.

Ao casar-se, passou a trabalhar como taxista, profissão que mantém até hoje, mas nunca abandonou a capoeira, ensinando até 2003.

Legado

A trajetória de Mestre Celso Pepe é marcada por:

• domínio de dois estilos clássicos;

• atuação pioneira em eventos culturais e televisivos;

• contribuição fundamental para a consolidação da capoeira no Rio;

• formação de mestres e figuras importantes, como Mestre Touro, entre muitos outros.

Sua capoeira, que ele define como um jogo “em cima, em baixo, no meio, com flexibilidade e sem fugir das origens”, tornou-se referência na capoeira carioca.

Fontes / Créditos (como solicitado)

• Entrevistas com M. Celso Pepe e M. Touro

• Acervo Celso Pepe

• Diário de Notícias (Hemeroteca Nacional)

• Matthias Röhrig Assunção, setembro de 2020