Biographie :

Marcelo Azevedo Guimarães, conhecido mundialmente como Mestre Peixinho, nasceu em 20 de dezembro de 1947, em Vitória, Espírito Santo. Chegou ao Rio de Janeiro ainda jovem e iniciou na capoeira em 1964, treinando com Cláudio Danadinho. Em 1965, ao conhecer os irmãos Paulo e Rafael Flores, uniu-se ao grupo de jovens capoeiristas que viria a se tornar o lendário Grupo Senzala, do qual foi um dos fundadores.

Com técnica refinada, disciplina rigorosa e criatividade singular, Peixinho destacou-se muito cedo nas rodas cariocas. Entre 1967 e 1969 participou — e ajudou o grupo a vencer por três anos consecutivos — o histórico torneio Berimbau de Ouro, que projetou o nome da Senzala nacionalmente. Seu jogo era marcado pela precisão, equilíbrio, golpes limpos, antecipação impressionante e movimentos acrobáticos executados com leveza e naturalidade.

Em 1974 foi reconhecido como Mestre. No mesmo período tornou-se um dos principais responsáveis pela profissionalização da capoeira, abrindo em 1974 a famosa academia na Travessa Angrense, em Copacabana, um polo formador de gerações de grandes capoeiristas.

Graduado em Educação Física pela UFRJ, Peixinho também estudou Administração e desenvolveu forte atuação universitária:
– Professor de Capoeira na UFRJ (1973–1980)
– Professor na UERJ (1979–1983)

Além disso, deixou uma marca profunda na internacionalização da capoeira. Foi um dos organizadores do Primeiro Encontro Europeu de Capoeira, realizado em Paris em 1987 — um marco que ajudou a consolidar a capoeira em diversos países. A partir de 1990, coordenou também os Encontros Escandinavos de Capoeira, contribuindo para o crescimento da arte em quatro continentes.

Como artesão, tornou-se um dos melhores fabricantes de berimbaus e atabaques do mundo. Seus instrumentos, conhecidos pela sonoridade excepcional, eram procurados por mestres e músicos internacionais. Peixinho também produzia facas, joias, raquetes de beach tennis e diversos objetos, sempre com perfeccionismo e criatividade.

Como professor e mestre, sua pedagogia unia firmeza, simplicidade, humor e sensibilidade. Ele desafiava seus alunos ao limite, mas sempre com respeito e humanidade. Criou uma enorme rede de professores que atuam no Brasil, na Europa, nas Américas e na Oceania.

Após uma década de grande violência nas rodas dos anos 1990, Peixinho voltou-se para uma capoeira de mais diálogo e alegria. Desenvolveu o “jogo de dentro”, um estilo para o toque do berimbau que privilegiava fluxo, equilíbrio e movimentação rente ao chão — uma inovação que influenciou profundamente a prática moderna da capoeira.

Ao longo de sua vida, participou de apresentações no Teatro Municipal do Rio, Sala Cecília Meireles, Festival Internacional da Ilha de Reunião, e do projeto Brasil em Preto e Branco na Europa. Foi figura central na expansão global do Grupo Senzala, reconhecido como mestre de mestres e referência técnica mundial.

Calmo, atento, discreto e profundo, Peixinho inspirou gerações. Para muitos, era como um pai — um exemplo dentro e fora da roda. Faleceu em 2011, deixando uma obra imensa e um legado eterno.

"Os problemas são os mesmos… eles só mudam de endereço."
— Mestre Peixinho