Biografia:

Mestre Felipe de Santo Amaro da Purificação, nascido Felipe Santiago em 11 de maio de 1927, na cidade de Santo Amaro, Bahia, é uma das figuras mais reverenciadas na história da Capoeira. Reconhecido como o mais antigo mestre de capoeira vivo e ainda em atividade, sua obra personifica mais de sete décadas de dedicação à arte que une corpo, ritmo, ancestralidade e resistência.

Criado no bairro do Pilar, em Santo Amaro, Felipe teve sua infância marcada pelas dificuldades e pela música. Órfão desde pequeno, encontrou consolo nos sambas que seu pai, Pedro Celestino dos Anjos, cantava. Esta ligação ao ritmo e à comunidade levou-o às rodas de samba locais, onde descobriu a sua paixão inata pelas expressões culturais que mais tarde definiriam a sua vida.

Em 1945, sua jornada na Capoeira começou sob a orientação de Mestre Arlindo, um angoleiro experiente, e dois anos depois, em 1947, ele aprofundou sua prática com Mestre Vivi de Popó, um discípulo-chave do lendário Mestre Popó do Maculelê. Esse aprendizado não apenas refinou suas habilidades, mas também o enraizou na linhagem ancestral da Capoeira Angola - uma linhagem que enfatiza o equilíbrio, a humildade e a continuidade da tradição afro-brasileira.

Ao longo de sua longa carreira, Mestre Felipe tornou-se um guardião do património oral e musical da Capoeira. Sua voz e berimbau foram imortalizados em várias gravações importantes, incluindo "Documento Sonoro do Folclore Brasileiro" (1988), "Salve Deus e Salve a Pátria" (2001), e "Vamos Vencer Camará" (2003). Em 2004, colaborou com Mestre Cláudio no célebre álbum "Angoleiros do Sertão e do Recôncavo", um projeto que uniu gerações através do canto e da história. Seu mais recente lançamento, "O Que É do Homem o Bicho Não Come" (2020), é uma reflexão poética sobre identidade, humanidade e o espírito duradouro da Capoeira.

Mais do que um professor ou músico, Mestre Felipe representa um arquivo vivo da história afro-brasileira. Sua arte, sabedoria e presença incorporam a resiliência de um povo que transformou a luta em movimento, ritmo e celebração. Através de seus ensinamentos, ele continua a inspirar praticantes em todo o mundo a honrar a Capoeira não apenas como uma arte marcial, mas como um recipiente de memória e sobrevivência cultural.

O seu legado - levado através de inúmeros alunos, rodas e gravações - assegura que a chama do conhecimento ancestral da Capoeira permanecerá viva para as gerações vindouras.