José Luiz Oliveira Cruz - Mestre Bola Sete
31 de maio de 1950, Santo Antônio de Jesus (BA)

Mestre Bola Sete aprendeu capoeira primeiro na rua e depois na fonte. Autodidata em 1962 nos arredores de Salvador, começou a estudar formalmente em 1968 com Pessoa Bababá, marinheiro comerciante e discípulo de Mestre Pastinha. Em 1969, ingressou na academia de Pastinha, no Pelourinho 19, e assumiu o papel de Fiscal de Campo - odiscreto guardião do ritual que mantém a roda honesta e a porta livre. Recorda a lição que mais lhe ficou: a humildade. "A humildade foi a maior lição que tive", diz ele - e levou-a para todas as rodas.

Depois de uma década ao lado de Pastinha, recebeu o seu diploma em 1979, autorização para ensinar Angola nos seus próprios termos. Em 1980, abriu o Centro de Cultura da Capoeira Tradicional Bahiana, continuando o trabalho de seu mestre com uma pedagogia comedida e um protocolo firme. Fora da roda, trabalhou no serviço público -Setor deTransportes, Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração - provandoque um emprego fixo e um berimbau fixo podem compartilhar a mesma coluna vertebral. Nos fins-de-semana, ele conduzia treinos e rodas no Passeio Público, perto de Campo Grande, mantendo a porta aberta para quem quisesse respeitar o ritual.

A sua alcunha, "Bola Sete", surgiu cedo: treinava vestido de preto da cabeça aos pés, como a bola sete do snooker. O seu olhar manteve-se igualmente distinto. É um crítico acérrimo do espetáculo acrobático em si mesmo - "hoje muitos golpes só acertam no ar" - e um defensor da essência defensiva, astuta e musical de Angola. Faz eco da famosa medida de João Pequeno: a capoeira antiga era menos agressiva e mais perigosa; grande parte da atual é mais barulhenta e menos eficaz.

Como autor e ancião, Bola Sete ajuda a codificar o que guarda. Os seus livros-CapoeiraAngola: Do Iniciante ao Mestre (2003), A Capoeira Angola na Bahia (2005), e Histórias e Estórias da Capoeiragem (2006) - apresentam seqüências, ética e memória para que iniciantes e mestres possam compartilhar uma linguagem. Seu CD Aqui Só Angola capta o tom da aula: voz baixa, ritmo claro, berimbau primeiro. Dentro da ABCA, ele fez parte - e às vezes presidiu - o Conselho de Mestres, defendendo que a capoeira é cultura antes de ser desporto, um meio de vida sem vender a alma.

Peça orientação a ele e você terá notas de campo em vez de slogans: respeite o ritual; ginga é a base; mantenha os olhos suaves e a visão ampla; aprenda a cantar e tocar berimbau; controle antes da velocidade; malícia decide; não mostre todo o seu jogo a um estranho; lealdade na chamada; evite a luta - termine-a rapidamente se for preciso. Acima de tudo, levar a capoeira para todo lado: corpo e espírito prontos na rua e na sala.

Marcos selecionados

• 1950 - Nasceu em Santo Antônio de Jesus (31 de maio)

• 1962 - Começa a praticar como autodidata em Salvador

• 1968 - Treina com Pessoa Bababá

• 1969 - Entra para a academia de Mestre Pastinha; atua como Fiscal de Campo

• 1979 - Recebe diploma de Pastinha

• 1980 - Funda o Centro de Cultura da Capoeira Tradicional Bahiana

• 1990s-presente - Ensina, escreve, grava; liderança ativa na ABCA

Onde o toque começa e o círculo aperta, Mestre Bola Sete é a mão firme na borda - mantendo a velha casa respirando e o jogo verdadeiro.