Samuel Francisco Barreto de Souza - Mestre Querido de Deus
18?? - 194?

Samuel Francisco Barreto de Souza, conhecido como Mestre Querido de Deus, é uma das figuras mais enigmáticas e reverenciadas da história da capoeira Angola na Bahia. Nascido no final do século XIX, Samuel construiu um caminho de respeito e admiração não só entre os capoeiristas, mas também nos círculos intelectuais e literários de Salvador durante as décadas de 1930 e 1940.

Ao contrário dos bem documentados Mestre Bimba ou Pastinha, a lenda de Samuel Querido de Deus cresceu principalmente através de sua proeza na roda, sua habilidade com o berimbau e seu carisma entre os colegas praticantes. Sua vida estava intimamente ligada ao povo das docas, pescadores e comunidades locais, refletindo um estilo de capoeira profundamente enraizado na cultura de rua e não em academias formais.

Os registos históricos colocam-no em momentos-chave da história da capoeira. Em 1937, ele liderou uma apresentação de capoeira Angola no Segundo Congresso Afro-Brasileiro em Salvador, um testemunho de sua maestria e liderança na arte. Edison Carneiro, em sua obra seminal Negros Bantus, reconheceu-o como "o melhor capoeirista que já vimos", enquanto Ruth Landes, observando um jogo em 1938, descreveu-o como um homem alto, musculoso, de meia-idade, descalço, e pescador de profissão - detalhes que dão vida à sua presença na roda.

Os encontros de Samuel com os seus contemporâneos, incluindo o lendário Mestre Bimba, realçam ainda mais o respeito e a reputação que ele tinha. Seu jeito brincalhão e estratégico de jogar, como conta Waldeloir Rêgo, mostra um capoeirista tão astuto quanto forte, fazendo de cada movimento uma arte e um desafio sutil.

Jorge Amado imortalizou-o na literatura, retratando a aura misteriosa de Samuel: um mulato com traços de ascendência indígena e possivelmente italiana, temperado pelo sol e pelos ventos do mar, mas inigualável em habilidade e elegância na roda de capoeira. Através das palavras de Amado, e das lembranças de estudiosos e fotógrafos de sua época, Samuel Querido de Deus emerge como uma figura cujo legado continua a influenciar capoeiristas e historiadores culturais.

Embora as datas exatas de seu nascimento e morte permaneçam incertas, o impacto de Samuel é inquestionável. Ele é lembrado não só como um mestre de capoeira, mas também como um símbolo do espírito duradouro das ruas, docas e rodas da Bahia. Seu nome, Querido de Deus, evoca reverência e serve como um lembrete da rica e viva história da capoeira - uma ponte entre gerações, um testemunho de resiliência e uma celebração da cultura.