Mestre Leopoldina (nascido Demerval Lopes de Lacerda em 1933 no Rio de Janeiro - falecido em 17 de outubro de 2007, em São José dos Campos, SP) foi uma figura importante na Capoeira Carioca e um mestre respeitado na velha guarda da Capoeira. Conhecido por seu estilo único e rápido de tocar, Leopoldina ficou famoso por seu domínio do berimbau e seu papel na preservação das tradições da Capoeira.

Início da vida

A infância de Leopoldina foi marcada por dificuldades. Nascido numa situação familiar difícil, ele foi muitas vezes negligenciado e espancado, crescendo sem a mãe. Ainda menino, saiu de casa e viveu nas ruas, dormindo em vagões de trem e vendendo doces em locais públicos. Essa educação desafiadora levou ao seu apelido, que ele atribuiu a uma locomotiva que costumava imitar, embora muitas pessoas acreditassem que o nome era uma das estações de trem do Rio.

Aos 18 anos, entrou para o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), onde passou algum tempo aprendendo habilidades como natação, que o ajudaram a se desenvolver fisicamente. Depois de deixar o SAM, Leopoldina trabalhou em vários empregos, incluindo a venda de jornais e amendoins, acabando por construir uma rede e gerir a sua própria equipa.

Introdução à Capoeira

No início dos anos 50, Leopoldina conheceu Joaquim Felix (Quinzinho), um famoso chefe de quadrilha e capoeirista. Quinzinho tornou-se o primeiro professor de Leopoldina, introduzindo-o à "tiririca", uma versão da Capoeira praticada sem o berimbau, popular entre a cultura de gangues do Rio de Janeiro. Depois que Quinzinho foi preso e depois assassinado na prisão, Leopoldina procurou um novo rumo na Capoeira.

Em 1954, ele conheceu Artur Emídio, um mestre de capoeira de Itabuna, Bahia, que jogava Capoeira Angola com o berimbau. Sob a orientação de Artur, Leopoldina abraçou o estilo baiano de capoeira, que era tocado ao ritmo do berimbau e marcou uma mudança significativa na sua prática.

Carreira e contribuições para a Capoeira

A vida e a carreira de Leopoldina como capoeirista evoluíram com o tempo. Trabalhou no Cais do Porto por muitos anos, mas aposentou-se cedo devido a um acidente de trabalho. Apesar das dificuldades que enfrentou, Leopoldina continuou seu compromisso com a Capoeira, levando-a para novos espaços e contextos.

Uma das suas maiores contribuições para a Capoeira foi o seu envolvimento com o samba. Era um sambista apaixonado e tornou-se uma figura-chave na Mangueira, uma das escolas de samba mais proeminentes do Rio de Janeiro. Em 1961, a Mangueira tornou-se a primeira escola de samba a incluir a Capoeira em seu desfile, o que trouxe a visibilidade necessária para a forma de arte. Leopoldina até organizou um grupo de 60 capoeiristas para mostrar a Capoeira na apresentação da Mangueira, consolidando ainda mais seu papel na integração da Capoeira na cultura brasileira.

Legado

A influência de Mestre Leopoldina na Capoeira e na cultura brasileira não pode ser subestimada. O seu domínio da arte e a sua capacidade de preservar e partilhar a Capoeira com a comunidade fizeram dele uma figura reverenciada no mundo da Capoeira. Ele também foi um pioneiro do estilo velha guarda de Capoeira, enfatizando a malícia, uma abordagem tradicional da Capoeira que incorpora truque, habilidade e estratégia no jogo.

Mestre Leopoldina deixou um legado duradouro tanto na Capoeira quanto no samba, e suas contribuições para a cena da Capoeira do Rio de Janeiro foram inovadoras. O seu compromisso de preservar os ensinamentos tradicionais da Capoeira e ao mesmo tempo abraçar a natureza evolutiva da arte fez dele uma figura central no desenvolvimento da Capoeira contemporânea.

Ele faleceu em 17 de outubro de 2007, deixando um rico legado levado adiante pelos mestres da velha guarda e seus alunos, e ele permanece lembrado como um símbolo de resiliência, habilidade e preservação cultural na Capoeira.