Mestre Bigo (Francisco Thomé dos Santos Filho, "Francisco 45")

Nascido em 24 de março de 1946 em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, Mestre Bigo cresceu com o mar nos pulmões e a capoeira na mira. Ainda menino, sentiu a força do jogo ao ver Mestre Pastinha e Mestre Cobrinha Verde atuarem. Pouco tempo depois, atravessou a baía até o Pelourinho e entrou no CECA, treinando na mesma casa que formou João Grande, João Pequeno, Bola Sete e Gildo Alfinete. Em 1969, recebeu o certificado de estudante de Pastinha, um simples papel que confirmava o que a roda já sabia - o seu jogo era enraizado, musical e cheio de malícia.

A Angola de Bigo é a Angola paciente. Ele ensina que menos é mais, que precisão é melhor que exibição, e que estratégia está por trás de cada sorriso. "A Capoeira Angola é como uma cobra. Ataca no momento certo", gosta de dizer. De Pastinha ele guardou não apenas movimentos e toques, mas a sabedoria das ruas - como ler uma esquina, como entrar num espaço e quando esperar.

Depois de se mudar para São Paulo em 1975, ele passou anos construindo uma comunidade na zona sul da cidade. Em 1989, fundou a Academia de Capoeira Angola Ilê Axé (ACAIA) no Jardim Selma, transformando um endereço de bairro num ponto de encontro de gerações. Gravou um CD em 2008, colaborou com outros mestres e manteve viva a linhagem do Pelourinho através de aulas semanais, rodas abertas e conversas tranquilas antes das chamadas do berimbau.

Hoje, Mestre Bigo é considerado um dos mais antigos angoleiros em atividade em São Paulo. Seu legado é firme e próximo ao chão - ginga que não desperdiça nada, músicas que carregam a memória e uma escola que trata a capoeira como luta, dança e filosofia em igual medida.