Natalício Neves da Silva - Mestre Pelé da Bomba
25 de dezembro de 1934 - 26 de outubro de 2024

Nascido no dia de Natal em Cipoá, Governador Mangabeira (Bahia), Natalício Neves da Silva - conhecido por gerações como Mestre Pelé da Bomba -cresceu com os ritmos do cais e das ruas moldando seu jogo. Aos doze anos, começou a treinar com Mestre Bugalho na rampa do antigo Mercado Modelo, cenário que forjou seu timing, sua malícia e o carisma fácil que mais tarde encheu as rodas da Bahia.

Em 1958, já era reconhecido como mestre e, em um ano, foi convidado a dar aulas no Exército (Companhia do QG)- depois, no Corpo de Bombeiros e na Polícia Militar. Pelé levou a capoeira do mercado para o quartel sem perder a alma, tratando cada aula como uma roda: um círculo de respeito, astúcia, música e jogo.

Sua presença também passou a fazer parte do acervo cultural da Bahia. Em 1964, durante a festa da Ribeira, no segundo dia de carnaval, aparece nas fotos e no filme de Hilkka Rautavaara, um retrato vivo do renascimento da capoeira no pós-guerra. Depois de uma longa pausa por motivo de doença em 1981, Pelé voltou cerca de duas décadas depois, atendendo a um convite da ABCA, lembrando que linhagem não é apenas uma lista de nomes - é uma forma de aparecer.

A voz e a memória de Pelé viajaram ainda mais através de gravações e impressões. Em 2003 participou no álbum Lenço de Seda - Antologia de Ladainhas e Corridos, e em 2010 publicou o livro O Pelé da capoeira, deixando um testemunho nas suas próprias palavras. Faleceu em 26 de outubro de 2024, mas seu jogo permanece nas cantigas da Bahia, na mandinga de quem ensinou, e na roda onde a elegância ainda encontra a coragem.